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MBAÉTARACA: uma experiência de educação de jovens quilombolas no município de Nilo Peçanha/BA

Resumo
 
A pesquisa foi desenvolvida com jovens do quilombo de Boitaraca, localizado no Baixo Sul Baiano, especificamente no município de Nilo Peçanha. Jovens que no período entre 2002 a 2006 – andamento da minha pesquisa de conclusão do curso de Pedagogia – até o presente momento, venho acompanhando o desenvolvimento de sua infância, com o objetivo de analisar sobre a educação escolar que recebiam dentro do quilombo. Uma educação escolar, a qual permite que as histórias, as tradições da comunidade e os ensinamentos dos mais velhos transponham as paredes da escola do quilombo. Os boitaraquences narram com orgulho as histórias que os mais velhos contam. Nascidas nesse meio em que o contar e o narrar são essenciais para a formação da identidade e perpetuação do legado cultural do quilombo de Boitaraca, as crianças e os jovens crescem, recebendo todo o aprendizado necessário para terem orgulho de pertencer ao quilombo de Boitaraca e dar continuidade aos valores dos antepassados. Mas, estes jovens ao terminar o Ensino Fundamental I, precisam ir para a escola Nair Lopes Jenkins, situada na cidade de Nilo Peçanha, para continuar seus estudos no Ensino Fundamental II.
 
É no contexto escolar do Nair Lopes Jenkins que se desenrola esta pesquisa de mestrado, pois se trata de uma escola que não foi preparada para atender às necessidades históricas, sociais e culturais dos  boitaraquences  e o seu currículo oficial, de base neocolonialista, não dialoga com as diversas culturas que transitam o espaço escolar e nem abre caminhos para o conhecimento e a aplicação de métodos que ampliam o horizonte de convivência entre os indivíduos. Assim, nossa inquietação para este  trabalho parte da questão: Como a história e a cultura dos jovens  boitaraquences, bem como, suas vivências e interpretações de mundo são contempladas na escola que frequentam fora do quilombo? Esta pergunta nos ajudou a refletir sobre as dificuldades educacionais enfrentadas por esses jovens ao saírem da escola do “Quilombo”, para estudar na escola da “cidade”. Este trabalho de natureza qualitativa, apresenta uma abordagem exploratória, utilizando na coleta de dados acervos iconográficos, referencias bibliográficas nacionais e internacionais, entrevistas semi-estruturadas realizadas com os professores, coordenador e diretor da escola da “cidade”, análises de desenhos projetivos feitos pelos jovens de Boitaraca e pelos jovens de Nilo Peçanha, observações e a  realização de oficinas lúdico-estéticas baseadas no repertório sócio-histórico de Boitaraca.
 
A análise dos dados abrem perspectivas para a elaboração de um material didático-pedagógico, baseado no direito à alteridade civilizatória dos quilombolas  boitaraquences, indicando caminhos valiosos para a superação do racismo que organiza o currículo escolar. A pesquisa demonstra a importância da educação através da ancestralidade africano-brasileira, no fluxo de sucessivas gerações que mantém, com dignidade, a herança dos seus antepassados, repondo e ampliando o universo mítico-simbólico que sustenta as tradições de um povo, suas organizações territoriais e políticas, valores, suas formas de comunicação através de narrativas míticas, modos de afirmação existencial e vínculos de sociabilidades.  
 
Palavras-chave:  Arkhé. Alteridade Civilizatória Africano-brasileira. Quilombo. Boitaraca. Racismo. Educação. 
 
Autor: 
Mille Caroline Rodrigues Fernandes
Categoria: 
Ano: 
2013